quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

[Opinião +D] Sombras da exaltação

Estes dias de bater com a mão no peito e jurar a pés juntos que somos assim, assado frito e cozido lembram-me as grandes manifestações de fé e crendice. Não é que não seja louvável unirmo-nos à roda de nobres causas, mas convém saber ao que vamos e respeitar o que se apregoa. Na maior parte dos casos é honesto o envolvimento e o sentimento partilhado e para além do mais, tais manifestações, trazem saúde a uma comunidade.

Falo-vos agora a partir de Santarém e faço eco de uma conversa tida com um amigo dos meus filhos que de ascendência Africana, se viu retornado a uma terra, então desconhecida, nos finais dos anos 70. Ironia do destino há alguns anos retornou a Angola onde encontrou um emprego que em Portugal começava a escassear. Neste final de 2014, regressado a casa para passar férias com a companheira e a filha, decidiu que estava na altura de trocar o carro, pelo que se dirigiu a um representante, da marca eleita, procurando saber das condições de venda de determinado modelo. De referir que a viatura a substituir fora adquirida no mesmo representante. Recebido por um vendedor que se prestou a fornecer os elementos que necessitasse, qual não foi o espanto quando aquele lhe disse, em começo de conversa, que para o modelo em causa ele não disporia nem de dinheiro nem condições de crédito para a aquisição pretendida. Assim sem mais nem menos, sem qualquer consulta a registos nem a históricos de cliente. Para além da estratégia comercial suicida adotada, sobressai a reprodução automática de um preconceito que há muito deveria ter sido erradicado do nosso dia a dia. 


Se a razão das manifestações não for interiorizada não passaremos de fantoches ao serviço dos mais hábeis que sabem bem como manipular sentimentos honestos de gente séria. A propósito o José, habituado aos desmandos que a cor da sua pele propicia, deu um salto a Leiria e comprou o carro que pretendia.




Carlos Seixas  (membro da Coordenação Nacional do +D)



Os textos de opinião aqui publicados, se bem que da autoria de membros dos órgãos do +D, traduzem somente as posições pessoais de quem os assina.

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